As cartas de Amor




As cartas de Amor

Meu trabalho me coloca de frente com gente todos os dias, amo gente, amo olhar nos seus olhos, amo conhecer a história de suas vidas, as que me contam com palavras, e especialmente, as que me contam com gestos, cílios em movimento, lágrimas e sorrisos. 
E em todos os atendimentos que faço aprendo um pouco mais de mim mesma e aprendo que tudo nesse mundo está relacionado ao Amor, venha ele vestido de contração ou de expansão, tudo se move por sua necessidade. 
Hoje pensando em tantos relatos de encontros e desencontros que venho ouvindo nesses 16 anos de trabalho como astróloga comecei a lembrar das “cartas de amor”. Quanta falta fazem as cartas de amor nos nossos tempos atuais! Que falta faz expressar esse universo que se move em nossos peitos! Me lembrei de Nando Reis que escreveu que “tornar o amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém”, essa é a função das cartas de amor, expulsar de nós aquilo que em nós pertence ao objeto de nosso amor, e tocar o mundo através dele, pois no fim o Amor basta ao Amor.
Assim me senti quando li as cartas do profeta Khalil Gibran para Mary Haskell, escritas há um século, mas tão vivas ainda agora, e desde que li, estão vivas também em mim. Da mesma forma fui tocada profundamente pelo documentário “Ashes and Snow”, quando o personagem se retira para dentro de si, mas escreve uma carta para cada dia do ano, uma carta para cada dia em que ficou em silêncio perante seu amor. Assim que, diante dessa reflexão resolvi começar a escrever cartas de amor, adoraria escrever uma por cada dia de um ano, não sei se conseguirei, pois meu ritmo de vida é alucinante, mas tentarei fazer uma carta para cada ato de amor ou desamor (este é só o amor do avesso) que me chegar através de minhas próprias experiências e através das histórias que aprendo ouvindo os “Mestres” que atendo todos os dias, meus clientes. 
Sempre escreverei sobre esses relatos como se fossem meus para preservar a identidade daqueles que me inspiraram. Então, vamos a primeira tentativa...

1º carta: 07/10/15

Inspirada em uma expressão de consentimento e saudades que recebi em um dos atendimentos de hoje.

Meu amor...
Sinto tanto nossa distância que acabo criando um universo imaginário onde nós estamos em um mesmo espaço acolhedor, onde eu te espero chegar em casa, te vejo purificado pela água que te banha, compartilho a comida com você, e depois te coloco encostado no meu peito e me torno ouvidos para saber como foi o seu dia. Quero descobrir sobre o que você aprendeu e ensinou, sobre as pessoas que te mostraram novas cores, sobre que músicas te inspiraram, que vídeos te fizeram rir. Quantas vidas mudou hoje meu amor? Quero te sentir com os ouvidos em festa esperando para saber o que eu criei neste dia. Gostaria de te contar que hoje lembrei do meu pai, senti saudades, queria te contar sobre o grande homem que ele foi, sobre como ele me ensinou que ser livre é ser bom, e ouvindo sobre ele você me contaria sobre seu avô que te tinha como um oásis, e você se daria conta de que ele também te ensinou que ser livre é ser bom. Caminharíamos por toda uma espiral de Dna e descobriríamos a razão de hoje aprendermos da vida encostados um no peito do outro, e faríamos amor, talvez através do sexo, talvez não, mas passaríamos a noite sendo um único corpo, nos preparando para um novo dia, para uma nova criação das histórias que vamos nos contar amanhã.

Será que essa distância realmente existe? Sou tão presença quando sinto você em mim. 

*Sempre sua, 

Eu

*as cartas de amor sempre terminam com “sempre sua”.

Imagem Gregory Colbert - doc Ashes and Snow.

Comentários

  1. Lindo, Fernanda. Tuas palavras me fizeram lembrar dois grandes mestres que passaram em minha vida: um professor de Fundamentos da Literatura e um professor de Literatura Portuguesa. Ambos senhores que dedicaram suas vidas ao estudo das Letras! O primeiro me ensinou que o principal pré requisito para uma obra ser considerada literária é seu caráter perene. A perenidade é o que nos faz ler uma obra e ela manter-se atual e tocar nossas almas e corações não importa a época em que foi escrita. Uma obra que atravessa os tempos e ainda assim nos cala fundo é Literatura na sua mais pura expressão. O segundo me ensinou que houve um tempo em que o Amor era primordialmente vivido através das Cartas de Amor. Trovadores medievais escreviam Cartas de Amor a suas amadas sem jamais revelar suas identidades pois o Amar através da palavra era a única forma permitida de expressar seu amor, dedicado muitas vezes a senhoras casadas ou comprometidas. Eram amores que nunca se concretizavam mas ficavam eternizados nos versos e rimas dos poemas e canções. Os estudiosos situam a Literatura entre a Filosofia e a História, duas áreas de estudo que remetem meus pensamentos a ti. Por isto nada mais natural que termos a Fernanda percorrendo tão linda e graciosamente o caminho da Literatura. Beijos de todos nós.

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